Prefeito do interior de São Paulo processa cidadão por críticas no Facebook
A 112 quilômetros da capital paulista, a pacata cidade de Porto Feliz discute a maneira como a Prefeitura vem se utilizando das redes sociais para “monitorar” críticas de cidadãos. O debate esquentou quando o engenheiro mecânico Rodrigo Cresti, 24 anos, publicou, no final do ano passado, comentários no Facebook criticando ações do prefeito e da Prefeitura. Dois deles poderão lhe render processo por calúnia e difamação.Em publicações separadas que compõe uma discussão iniciada sobre a restauração do museu da cidade, Cresti diz que o prefeito Claudio Maffei (PT) possui uma casa de R$2 milhões no município vizinho de Sorocaba. Num segundo post, o jovem escreve que “verbas para restauração do museu foram repassadas à Prefeitura, mas não utilizadas”. Uma semana após as publicações, o engenheiro recebeu intimação para depor, foi quando tomou conhecimento que o prefeito havia realizado uma queixa crime em função de seus comentários e que pretendia seguir com o processo.
Mesmo tendo retirado as publicações da rede social, Cresti não as nega. Entretanto, considera que seus comentários são criticas e não calúnias ou acusações contra o prefeito. “Essa casa que eu menciono é um comentário que corre na cidade há muito tempo, isso acontece em cidade pequena. Minha intenção não era acusar o prefeito, mas dizer que ele estava preocupado com outras coisas que não fossem os destinos turísticos da cidade. Outra coisa que disse em outro contexto foi a existência de uma verba para a reforma do museu, mas que não foi usada pela Prefeitura”, diz.
Prefeito Claudio Maffei (PT)
Anexado ao processo 012012 estão várias cópias do desdobramento da discussão. Cresti recebeu opiniões contrárias e a favor, inclusive, muitos dos envolvidos na conversa apontam em seus perfis que são funcionários da Prefeitura.
Segundo o prefeito Claudio Maffei disse à IMPRENSA, o problema não são as criticas, mas o fato de Cresti ter feito acusações “graves” de atividade ilícita. “Porto Feliz é totalmente aberta para quem quiser fazer criticas e mostrar problemas da cidade, o que não podemos compactuar é com calunia, difamação e mentira”, diz Maffei.
Jogo político
Questionado se a repercussão do caso teria sido utilizada para jogo político, Maffei não acredita que exista a mão da oposição no caso e sim “que foi imaturidade da pessoa que postou um comentário mentiroso e por isso, vai receber toda reação jurídica e ter que arcar com o que escreveu”. Fernando Moreno Machado, secretário-geral do PSDB em Porto Feliz, aponta que existem sim motivações políticas no caso. Ele explica que Cresti é filho de uma professora militante do PSDB. “Cresti sempre teve capacidade de se indignar e exerce uma liderança sobre os jovens da cidade, virou alvo por fazer parte da família de uma de nossas militantes”, conta.
José Eud Antunes, líder do PSDB na cidade, reforça que o prefeito não possui perfil de cerceamento a opiniões, “entretanto, foi orientado para mover o processo por fins eleitoreiros pelo fato de o acusado ser filho de uma filiada ao partido. Além disso, Cresti estava sendo sondado para ser presidente da coordenadoria da juventude do PSDB de Porto Feliz na época do comentário, o que contribuiu para que virasse objeto de ataque”.
Manchete de um dos principais jornais da cidade
Antunes reforça que não existe acusação, “uma coisa é dizer que o prefeito tem uma casa, outra coisa é dizer que o prefeito tem uma casa construída com dinheiro público e não foi o que ele disse”. Confirmando uma série de manifestações afirmando que a Prefeitura estaria “cerceando a liberdade de expressão na cidade”, Machado diz também que existem abusos por parte da Prefeitura em Porto Feliz. “As pessoas tem medo de falar das verdades sobre o que a Prefeitura não tem feito nessa cidade, ou por que tem algum parente que foi colocado na Prefeitura e precisa do emprego, ou por que tem medo de ser intimidado”, denuncia.
Monitoramento e intimidação
As redes sociais se mostraram uma forma eficiente de desabafo e reclamações por parte dos munícipes da cidade. Entretanto, ainda existe a discussão se comentários gerados na rede poderiam ser alvos de processos. IMPRENSA tomou conhecimento de outros casos em que pessoas se utilizaram do Facebook para reclamar de serviços não prestados ou mau atendimento em repartições públicas e foram abordadas e orientadas a tirar os comentários.
Marcelo Mastrobuono, editor da revista Viu
O PSDB reclama que no caso do processo contra Cresti os jornais da cidade não deram repercussão imparcial por interesses. Um dos principais jornais da cidade, a Tribuna das Monções, deu manchete sobre o assunto uma semana após o ocorrido. Antes de publicar, o jornal tentou localizar Cresti, mas não conseguiu. Ainda no dia do fechamento, o diretor do periódico, Antonio José neto, conversou por telefone com Cresti. Sobre o teor da conversa, o engenheiro afirmou que Neto tomou as dores do prefeito e indagou que o jovem “pagaria pelo que fez”.
Posteriormente a conversa, Neto publicou uma coluna opinativa ressaltando a imaturidade de Cresti. "Rodrigo Cresti não atentou pelo óbvio e confundiu-se entre acusação e direito à opinião. Ele acredita que caluniar contra uma pessoa é opinião. Não está totalmente errado, apenas equivocado. Se tiver razão até pode Sua geração é nova, acredita que direito de opinião é dizer o que quiser, sem limites e que as redes sociais são ambientes ideais para publicar qualquer coisa", diz a nota.
À IMPRENSA, Neto rebate às afirmações de que a publicação tem interesses com a Prefeitura. "Não amanso, não analiso e não diminuo nada, o que me interessa é o fato. Além disso, não estou tomando as dores do prefeito. Eu penso que essa nova geração não sabe o poder que as redes sociais possuem e geram essa confusão", diz.
O jornalista Marcelo Mastrobuono, editor da revista Viu, reclama que a gestão do prefeito não é transparente e sufoca os meios de comunicação que não são “simpáticos” ao seu mandato por meio de “assédio jurídico”. “Por alguns anos, exercemos na cidade um jornalismo investigativo mostrando escândalos, denuncias e de fato o que acontecia na gestão de Maffei Entretanto, os processos foram aparecendo e por questões financeiras tivemos que optar por não mais fazer esse tipo de jornalismo”. Matrobuono ressalta que não consegue fazer matérias relacionadas à Prefeitura por que passou a ser vetado em coletivas e eventos.
Rodrigo Cresti se defende das acusações de "calúnia e difamação":
Fonte:portalimprensa
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